Uns dias mais tarde, acho que a 24 de Outubro, mais uma visita que me pediram pra colaborar, lá conto as minhas "estórias de Jarmelo"
Wednesday, November 17, 2010
A CRISE QUE NÃO É DE AGORA
Vivemos nestes tempos, tal como no passado, acima das possibilidades. Diz-se por aí que com tanta austeridade não se aguenta.
A primeira é pra mim mais verdadeira que a segunda, pois basta reparar no índices de consumo do “português tipo”: quem na Europa (ou no mundo) tem tantos telemóveis per capita como nós? Quem tem dos maiores índices de acesso à internet? Quem usou de forma brutal o cartão multibanco no último Natal e o usará novamente de forma irracional este ano?
Neste estado está o país, neste embrulho estamos todos… quantos realmente já accionaram medidas mínimas pra acautelar o que aí venha?
Demos ou não (a família) aos nossos filhos, mais coisas no último ano, (que optámos por deixar que nos obrigassem a chamar prendas), que nós tivemos durante toda a nossa infância e até idade adulta?
Deixámos ou não que à nossa volta, se criassem dias disto e dias daquilo, e nós enrebanhados, quero dizer, em uníssono/rebanho, colaboramos no Natal do Pai Natal; no dia dos namorados, dia da mãe, dia internacional da mulher; dia do pai; dia da escola; dia das bruxas; dia de carnaval; dia da confraria dos que têm o nosso nome; dia da confraria dos que bebem vinho; dia da confraria dos que bebem cerveja; dia (semana) do caloiro; etc e tal.
A sociedade foi-nos arregimentando e formatando de tal maneira que sem estas directrizes, a nossa vida quase nem faria sentido.
O apelo ao consumo é de tal forma que em meu humilde parecer deveria ser regulamentado; regulamentado no sentido de não se poderem fazer apelos ao consumo da forma irresponsável. O credor (fornecedor do bem a consumir) deveria ser “responsabilizado” pelo empréstimo ao consumo. Explico: o critério para empréstimo, e falo no metal/dinheiro, com o consumo por excelência.
Há quanto tempo emprestam as mais diversas entidades a pessoas que à partida se percebem que não poderão cumprir? As entidades que emprestam, formam os seus quadros numa base da maior rentabilidade possível, penso eu, que também desprovendo-os em alguns casos de valores morais na relação com o cliente, numa lógica do cliente “agarrado” hoje a um produto financeiro, amanhã a outro e por aí em diante num círculo vicioso, tal qual um aparente paliativo.
Percebe-se porque existe, crédito para ir de férias!? Percebe-se porque existe. Existe porque existe!
Como seria triste a nossa vida se um dia não tivéssemos dinheiro para folguedos… mesmo deixando de pagar, as contas da mercearia do bairro, cujo dono já não vai de férias há anos. Como seria triste a nossa vida sem crédito para férias, mesmo devendo dinheiro a uns quantos familiares ou amigos há anos.
Como seria triste se voltássemos ao tempo em que nós éramos crianças…
Como seria triste se os nossos pais, nos tivessem obrigado a comer a sopa. Como seria triste se os nossos pais não nos tivessem levado há 30 ou 40 anos ao MC Donalds. Como teria sido triste se nos dias da festa da aldeia, há 30 ou 40 anos, não tivéssemos luzido as calças ao fundo do…(e como é que se diz isto em rádio?)… como teria sido triste se há 30 ou 40 anos não tivéssemos telemóvel, Ipod e outros bens.
Eu comprava um tratorsinho no dia 16 de Setembro, custava 5 escudos. Era pra todo o ano, e fazíamos carrinhos com um elástico, sabão e o carro de linhas.
Os que me conhecem vêem em mim um homem angustiado por ter guardado as vacas dias a fio e não ver o Ben Ten? Diz-se hoje, as ciências antropológicas, que esses exercícios da solidão ajudam a criança a desenvolver outras apetências. Talvez daí tenha tirado o rasgo que levou à recuperação da vaca jarmelista.
Tenho saudades desses tempos em que éramos felizes com muito pouco, em que a abundância era a palavra MUITO, do pouco que tínhamos.
Que não se pode com tanta austeridade que possa vir a caminho? Ai pode pode, e não é o IPOD da Machintosh… É o pode, de ter que ser.
Da mesma forma que paulatinamente fomos incrementando supérfluos hábitos de consumo, da mesma forma mas ao contrário, vamos ter que “Excrementar” , quero dizer, deitar fora, deixar os mesmos hábitos de consumo não essenciais.
Agostinho da Silva
Vivemos nestes tempos, tal como no passado, acima das possibilidades. Diz-se por aí que com tanta austeridade não se aguenta.
A primeira é pra mim mais verdadeira que a segunda, pois basta reparar no índices de consumo do “português tipo”: quem na Europa (ou no mundo) tem tantos telemóveis per capita como nós? Quem tem dos maiores índices de acesso à internet? Quem usou de forma brutal o cartão multibanco no último Natal e o usará novamente de forma irracional este ano?
Neste estado está o país, neste embrulho estamos todos… quantos realmente já accionaram medidas mínimas pra acautelar o que aí venha?
Demos ou não (a família) aos nossos filhos, mais coisas no último ano, (que optámos por deixar que nos obrigassem a chamar prendas), que nós tivemos durante toda a nossa infância e até idade adulta?
Deixámos ou não que à nossa volta, se criassem dias disto e dias daquilo, e nós enrebanhados, quero dizer, em uníssono/rebanho, colaboramos no Natal do Pai Natal; no dia dos namorados, dia da mãe, dia internacional da mulher; dia do pai; dia da escola; dia das bruxas; dia de carnaval; dia da confraria dos que têm o nosso nome; dia da confraria dos que bebem vinho; dia da confraria dos que bebem cerveja; dia (semana) do caloiro; etc e tal.
A sociedade foi-nos arregimentando e formatando de tal maneira que sem estas directrizes, a nossa vida quase nem faria sentido.
O apelo ao consumo é de tal forma que em meu humilde parecer deveria ser regulamentado; regulamentado no sentido de não se poderem fazer apelos ao consumo da forma irresponsável. O credor (fornecedor do bem a consumir) deveria ser “responsabilizado” pelo empréstimo ao consumo. Explico: o critério para empréstimo, e falo no metal/dinheiro, com o consumo por excelência.
Há quanto tempo emprestam as mais diversas entidades a pessoas que à partida se percebem que não poderão cumprir? As entidades que emprestam, formam os seus quadros numa base da maior rentabilidade possível, penso eu, que também desprovendo-os em alguns casos de valores morais na relação com o cliente, numa lógica do cliente “agarrado” hoje a um produto financeiro, amanhã a outro e por aí em diante num círculo vicioso, tal qual um aparente paliativo.
Percebe-se porque existe, crédito para ir de férias!? Percebe-se porque existe. Existe porque existe!
Como seria triste a nossa vida se um dia não tivéssemos dinheiro para folguedos… mesmo deixando de pagar, as contas da mercearia do bairro, cujo dono já não vai de férias há anos. Como seria triste a nossa vida sem crédito para férias, mesmo devendo dinheiro a uns quantos familiares ou amigos há anos.
Como seria triste se voltássemos ao tempo em que nós éramos crianças…
Como seria triste se os nossos pais, nos tivessem obrigado a comer a sopa. Como seria triste se os nossos pais não nos tivessem levado há 30 ou 40 anos ao MC Donalds. Como teria sido triste se nos dias da festa da aldeia, há 30 ou 40 anos, não tivéssemos luzido as calças ao fundo do…(e como é que se diz isto em rádio?)… como teria sido triste se há 30 ou 40 anos não tivéssemos telemóvel, Ipod e outros bens.
Eu comprava um tratorsinho no dia 16 de Setembro, custava 5 escudos. Era pra todo o ano, e fazíamos carrinhos com um elástico, sabão e o carro de linhas.
Os que me conhecem vêem em mim um homem angustiado por ter guardado as vacas dias a fio e não ver o Ben Ten? Diz-se hoje, as ciências antropológicas, que esses exercícios da solidão ajudam a criança a desenvolver outras apetências. Talvez daí tenha tirado o rasgo que levou à recuperação da vaca jarmelista.
Tenho saudades desses tempos em que éramos felizes com muito pouco, em que a abundância era a palavra MUITO, do pouco que tínhamos.
Que não se pode com tanta austeridade que possa vir a caminho? Ai pode pode, e não é o IPOD da Machintosh… É o pode, de ter que ser.
Da mesma forma que paulatinamente fomos incrementando supérfluos hábitos de consumo, da mesma forma mas ao contrário, vamos ter que “Excrementar” , quero dizer, deitar fora, deixar os mesmos hábitos de consumo não essenciais.
Agostinho da Silva
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