IN MEMÓRIAM
Ontem, noite fria, deu-se a já anunciada morte do galo do entrudo.Ontem, procedeu-se ao seu julgamento, na praça pública. Conforme vinhasendo preparado, aconteceu. Morreu de morte queimada.
O povo em algazarra, reuniu-se com um único intuito: comer a canja dogalináceo. A organização serviu-se das associações para criar umambiente algo hostil e quiçá influenciando/balanceando a populaça parao desfecho final.
Uns poucos resistentes, que fariam a defesa, reparámos queesbracejavam desalmadamente no cimo de uma "padiola" de fardos depalha, na iludia tentativa de apaziguar a fome de canja das gentes quede todas as ruas apareciam com ânsias de assistir ao terríficoespectáculo. Houve mesmo quem no final de um momento de desepero, alimesmo junto à Igreja da Misericórdia, fizesse o próprio:MISERICÓRDIA!! Não se sabe a certeza se gritou, se implorou aosconfrades da mesma que já partiram. Certo é que para espanto geral,num raro momento de flagelo purgante dos males que imputavam sobre oacusado, ali mesmo se atirou da referida "padiola em que iam astestemunhas de acusação e defesa. O que certas personagens fazem pelassuas causas!?Quando já todos pensavam que a defesa ia ali baquear, eis que da mortesai sempre vida e com trejeitos algo estranhos, devolve o "epíteto"que a acusação lhe atirara e qual renascido, faz-se novamente à causaaté à grande praça.
Podemos aqui afirmar que a organização tentou por todas as artimanhasinebriar as gentes, imagine-se! distribuindo vinhaça gratuitamente,como se fosse necessário: todos sabemos que nestes dias o povo é umaborracheira colectiva mesmo sem vinho.Pese embora a noite, dava para perceber nos olhares o brilho daansiedade por presenciar o horrendo ( as gentes querem sangue).
Já na praça, deu-se início às "funções". Pelo aspecto dos "meliantes", cedo se percebeu o que estaríamos ali a fazer. Em surdina, ia adefesa passando a mensagem de que o galináceo estava inocente. Ogrande trunfo da defesa, era a vacagalo, prima do dito, vinda doJarmelo. Lá do palanque da defesa, tentámos vislumbrar a falange deapoio, numa réstea de esperança que a mobilização consertada, viesse aresultar pela primeira vez no inédito: Julgamento e glorificação doGalo.Pelo que foi possível observar, a prima jarmelista vacagalo, foi maisuma vez estrategicamente relegada para segundos planos (mais uma vez,aqui foi visível qual a in tenção da "festa", dado que a defesaconsertara uma estratégia "limpa", sem qualquer atropelo ao segredo dejustiça, mas tão só assente em verdades e inevitáveis momentos devisibilidade, como aliás ao que parece, sempre foram os métodos detrabalho do estratega, que "maquiavelizou" o plano).Quando, ao que foi possível apurar, esta falange de apoio, compostapor mais de duas dezenas de convictos "fieis" (soberbamentecaracterizados, com indeléveis marcas de personalidade na cabeça) seaproximavam, foram literalmente abafados e estrategicamente colocadosna sombra numa analogia que passo a descrever: O meritíssimo Juiz,estava sentado num plano central, sobre o qual era natural queincidissem fortes projectores de luz (sabe-se da física, que quantomais potente for o foco, mais acentuada torna a sua sombra. Ora estefoi o lugar que "por acaso" tocou àquela que durante duas semanas sepreparara para dar visibilidade à inocência de seu primo da Guarda). Aluz que deveria pois trazer clarividência, serviu pois para colocar emdesvantagem toda a estratégia visual da defesa.
Quando do outro lado da praça, passaram a voz à acusação, logo se deuconta que se tratava de um ilustre ( a julgar pelos penachos que luzianos ombros) jurista da capital. Logo que tomou a palavra, se começarama ouvir em surdina, que receberia mais este por duas palavras, quealgum dia nos poderia chegar a todos de algum presunto FREEAIRPORT ,mas retirando estas "tiradas" só permitidas em ajuntamentos nocturnose dias como este de desvarios, cedo se percebeu que a acusação tinhaa situação controlada, nomeadamente até pela, suposta, postura (maisuma vez acentuada pelas gentes anónimas) do Meritíssimo Juiz, com umacerta inclinação visual prá esquerda.
Acareações e arrazoados (nada de confundir com arroz de cabidela),infâmias e campanhas negras, tudo espremido, estaria pronta asentença, mas num gesto "Ponçopilateano", o meritíssimo Juiz, quissaber da "verdade" da populaça. Para surpresa, a reacção foi de VIVA OGALO, durante três vezes (fruto da surdina que a defesa conseguiufazer passar, quer durante a semana, quer no próprio momento).Ao meritíssimo, não restava outra alternativa, senão... cumprir oguião: MORTE AO GALO!Concedeu-se, ainda assim, um último desejo, ao infortunado. Eis quepara surpresa geral, o galináceo, pediu o impensável: que numa terrade gente ilustrada e punhos nas camisas, fosse-lhe permitido ouvir a"contra-argumentação", pela voz dessa grande representante da chamada"esquerda plebeia": ODETE SANTOS.
Percebemos das suas palavras que afinal o veredicto popular estavacerto: o Galo, não era afinal o causador, mas tão só o bodeexpiatório.
Seguiu-se a expiação, pela imolação de um fogo purificador,dispensando ao acusado esse ritual da reconciliação.
A populaça, que antes defendera o galo, corre agora, em atropelo emprol da canja que acabara de se fazer, a memória é curta e ooportunismo caracteriza-nos.Quando todos pensavam que iria haver caldeirada, nem sequer arroz decabidela tivemos, quando todos gritaram vida ao galo, veio a canja.
Mais uma vez, aqui enquanto familiar infortunado, a prima do Jarmelo,reafirma, que ele nunca recebeu luvas a não ser por causa da neve,recebeu sim uns cachecóis... mas que mal tem isso? O cachecol, atéajuda a manter a cabeça erguida, e pode dar-nos aquela postura deesquerda chique, nuns, e noutros, sim de grosseiros sujeitos esujeitas.
Agostinho da Silva, no dia seguinte (em representação da Vacagalo)
Tuesday, February 24, 2009
Monday, February 23, 2009
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